terça-feira, 29 de abril de 2008

... dum monólogo ...

Desperdiçados. Cada um dos dias que se passaram foram desperdiçados. Afoguei a todos na mais pura e coesa das minhas imperícias. Não se sabe ao certo quando a decisão errada, a caminhada tortuosa ou o desvio indevido aconteceu, mas aconteceu. E aconteceu de um jeito tão impactante que nem doeu. Recebi a notícia enquanto sozinho, indefeso, incauto. A pressão baixou, as mãos se contorceram inutilmente e o cenho franziu. Os olhinhos de comer fotografia não piscavam e cada gota daquele inesperado suor descia dolorida e impertinente, manchando e incomodando.Descobri ser mais um entre esse monte de outros. Andei descobrindo muitas outras coisas de deixar o cabelo em pé, o corpo aos solavancos, a mente inerte, a alma sangrando. Coisas absurdas de paganismo, planalto central, magia e meditação. Também descobri coisas sobre o labirinto que cada um vê no espelho. Esses montes infindáveis, cheios de segredinhos indecifráveis e incomentáveis. Os labirintos do dia-a-dia, tão reprimidos quanto um peidinho. Fecaloma é o resultado da opressão dos peidinhos, sabe? As paredes do reto se dilatam e alguma coisa faz com que quantidades enormes de merda endureçam por ali. Ficam e ficam e se agrupam e se retorcem, fingindo espaço. Não saem, multiplicam-se. Labirintos, sim. Os labirintos do dia-a-dia, tão reprimidos, refletem-se no espelho de uma forma tão gutural, tão tensa, tão macia quanto uma facada da própria mãe. Sei disso porque eu conheci muita gente, falei com muita gente e sou meio empático. Não que eu seja dos mais confusos, complexos ou peculiares, sou todo assim: só, eu, que como todos, também sou bicho solto, cão sem dono, menino bandido.Ontem, teve em casa uma festinha. Nós seis, todos promissores, bêbados demais pra transar, cada um com sua cigarrilha representativa e o fedor de digressão pairando no ar. Nós e nossos futuros almejados ali, na nossa frente, falando do conservadorismo de Luther King, das teorias de alcoolismo da Calcutá, Rousseau e Hobbes sendo aproximados, o amor em Castro Alves e beijando Kafka e Roterdã. Inicialmente, estudaríamos entalpia mas fracassamos. Desperdiçamos, todos, tempo estranho. Diversão, utilidade, sociabilidade, fé fraternal, desperdício. Contudo, o cheiro de digressão ainda paira no ar. Esse fedor de alegria e tagarelice aguda consome meu bom-humor. As dores pelo corpo também. Parece-me ter pecado todos os pecados de pernas pro ar. Sentar na janela da pia da cozinha e olhar pro gramado.Meu cachorro dança febril, feliz, canino pelo jardim. Não desperdiça tempo e nem nada porque não o tem. Não como um ser humano, sortudo, que tem dezenas de centenas de preocupações que não o preocupam, outras tantas dezenas de centenas que o preocupam e mais umas dúzias das que são particularidades pessoais. Bonnie. Deveria pôr um chapéu e colocá-la num Cadilac 56, já que nunca vi o filme. Releitura chique. Brincando com o osso, percebe a minha presença muda e sem semblante expressivo. Late aparentemente feliz enquanto olhando pra mim. Quer dizer alguma coisa. Engraçada essa esperança que temos de, enfim, entender o que nossos animais nos dizem. Criava porcos-da-Índia pra alimentar uma píton albina que morava no quarto de hóspedes de casa e adoraria saber o que os roedores diriam pra mim, podendo entender. Sempre olhavam nos meus olhos, soltos no quarto, ela descendo da árvore-casa, desperdiçando tempo, com os olhinhos brilhantes e tenros deles. Fracassavam e eu ria do fracasso deles. Acho que vai chover e lembro ter de estudar o clima europeu.Gotas no telhado do vizinho. É assim que aprendi a ver se está chovendo. Posso ouvir o baralho das gotas nas telhas, no asfalto, nas pessoas correndo com seus guarda-chuvas, mas sempre preferi olhar para aquela sombrinha debaixo da telha do vizinho. Observar atentamente a profundidade e o cinismo da chuva. Descobrir os de fatos da chuva. Ora ora ora, não pensemos, eu e você, que eu não gosto de cinismo. Adoro uma conversa afogada em cinismo e em truncadas. Exercício pra mente, essas conversas e os criptogramas das revistinhas da minha mãe. Ai, minha mãe... Quando souber...Não acredito em céu e nem em inferno. Não sou fã de nada que não pensa e finge cumplicidade. Cumplicidade acima de tudo. Impressionante não terem passeatas e nem homenagens à cumplicidade de bom coração. Mas como eu dizia, concluindo daqui dessa janela, com as roupas encharcadas pelas gotículas de chuva que me acertam, desordeiras, não acredito em misticismo, em Nova Era, em cosmo nenhum. São tolas e grandes bobagens. Se não houvesse um Deus, alguém o criaria. Acho que foi algo assim que disse o discípulo de Schopenhauer. Enfim, se fosse pra eu refletir sobre esse tema – e é o que tenho feito nessas últimas hora -, eu diria que existe um céu pra cada coisinha. Um pra objetos quebrados, um pra gente ruim, um pra gente bacana, um lugar pros dinossauros, um pros filmes ruins, um pra todo aquele café do Convênio de Taubaté ... e um pros meus porcos-da-Índia, que não foram minhas namoradas, mas estariam olhando pros meus olhinhos, soltos na janela, ela impressa na internet, desperdiçando meu tempo, com os olhinhos brilhantes e tenros deles. Fracassei e eles riem do meu fracasso.

"Eu vai dar tiro no teu carro."

segunda-feira, 28 de abril de 2008

... do que lhe é alheio ...

Saiu do banheiro, no hotel, num outro canto que não o dele; viu que eram todas ríspidas, as curvas do corpo mutilado no espelho, mutilado pelo espelho e pelos olhos. Ele estava entrecortado, nu, tremia, fremiam, gemia baixinho de prazer. Ele era um canto pra uns, um ombro pra outros, um estômago pros altivos e um zumbido pros menos afortunados. Ele era uno com o externo e alheio a si mesmo. Ele via o corpo, então. Era dele, mas era um externo, na reflexão. Não era ele, naturalmente, era um tal de José. Era um tal de Pizarro - mais um alheio. Pensando em Elogios, Adágios e sinfonias, chegava a lugar algum. Pensava em morfemas e sintaxe pro tempo passar. Queria dormir, nu, tremendo, fremendo, gemendo baixinho. Sabia que o número do quarto era chave pro entretenimento, pro alheio que lhe seria interno e vice-versa e ora bolas ! e ulalá !. Tinha a certeza de que aquele alheio de Santa Rita poderia ser diversão garantida, a priori. Não foi, não seria e faz tempo que não se é - ele, claro. Deitou-se pensando no dia seguinte e no outro e no outro. Desejava delineá-los, cobiçava o controle instantâneo, um agendamento de tudo e todos, sem exceção. Cobriu-se, tremendo, fremendo, gemendo baixinho. Fechou os olhos d'abajur aceso, ligado, eletricamente útil. A tecnologia lhe parecia tão íntima do iluminismo que qualquer dissertação que lhe fosse precisa incluiria esse tema, do contrário, era tolice descartável. Não se importava com nomenclaturas e técnicas de dialética ou o caralho a quatro. Vomitara sangue, em segredo, no outro cômodo. Sentia que as dores aumentavam. Apagou o abajur, fremendo, gemendo baixinho. Chorava. Queria paz, mas uma paz altiva, franca e contemporânea. A paz dos liberalistas que não podem ceder ao inoportuno ócio, a paz dos ociosos que se integraram inconscientemente no liberalismo. Desejava acordar logo, mas era preciso dormir... Levantou-se. Pra dormir, sabia que teria, antes de luto, de levantar-se. Levantou-se com um pouco mais de força que o normal porque doía e não queria sentir tanto. Mostrou-se o pênis ao espelho. Ficou olhando. Era algo mais externo ainda. Como se fosse um externo daquele externo, uma extensão não desconhecida, mas nada íntima. Cerveja. Tinha no frigobar. Nada de abajur. Cerveja e ele e o cigarro e a dor e a ansiedade. Podia dormir. Deitou-se. Bebia. Cobriu-se. Bebia. Doía. Dormiu, pensando em alheios que não lhe saciam. Em ideais, idéias e outras póstumas de vanguarda. Dormiu, pensando em alfabeto, canto, sono e moinho. Dormiu, cantando ... gemendo baixinho.
"Don't you think wouldn't get enough of silly love songs ?

Well, I look around and it isn't so."

... da integração póstuma ...

Estive vomitando num papel, sabe ? Levando a tinta de encontro a ele [o papel], fui juntando sílabras digressivas e sintaxes não tão conclusivas em uma maré do que eu achava ser eu. Tem sido difícil ser mim hoje em dia. Tem sido difícil encontrar-me no labirinto de mim's onde larguei meu eu, já não tão libidinoso, centrado ou carrasco. Os parágrafos de sutilidades inegavelmente parciais não me confortam, não fazem com que excrete toda a bile que ainda me falta excretar, expôr ou mesmo simplesmente re-experimentar. Regurgitofagia. Abracei memórias passadas. Eu, que não era tão uno, tenho entendido que o canto da sala ainda é parte da mesma sala. A iluminação e o mofo que mudam, a pele coberta por pústulas e assimetrias ainda é a pele que cobre o outro, no centro iluminado e frenteando a porta de entrada. Regurgitofagia. Vomitar e deglutir, depois, a fim de escolher os novos pensamentos, de sintetizar o que não nos é au pair, o que não pertencia ao modus operandi desejado - mesmo que desejado sobre bases de valores extremamente assimétricos, herdados e nada posteriores ou vanguardas. Enfim, vomitar o almoço empurrado pra escolher os restos mais apetitosos e sentí-los, novamente, depois, mais calmamente.
Sempre tive apreço por vômitos e secreções. Quando convivas, bêbados ou doentes, iam pintando os cantos das mais variadas e imprevisíveis cores, sentia imensa vontade de partilhar das sensações odoras da tinta natural que lhes esguichava goela afora, chão adentro, pele ao toque, língüa à tosse, beijo à garganta e outras. Impedíam-me sempre que possível; nem sempre o era, é claro. Cheirava, inalava, sentia pulsante e metaforizava em gozos dos mais variados. Entendia muitos dos porquês e, no final, era apenas mais experiência passável ou só indiscutível, mesmo. Ah!, as experiências. Sempre gostei de experienciações das mais variadas, discutíveis, não tão mecânicas ou esperadas ... óbvias ...
Tô ouvindo Rolling Stones e não acho pertinente falar sobre essa banda. Fizeram história. Que fiquem por lá.
Qualquer dia, tento digitar uma crônica por aqui, pra mim, porque ninguém tem lido - e eu gosto disso.

"I'm counting on you, lord ...
Please don't let me down"

... de nada, sabe?

Porque ele tem tomado um tempo e me desconcertado. Essa história de ying e yang é balela efetiva. Um arroto e nenhum gota de suor por aqui. Sem esforço, deve ser. Tragos da rotina eufórica - na imensidão da falta de virtudes e perspectivas - soam dignos pro que tá no canto. O outro, lá, já comentado. Não somos bons dos números, não somos bons das parábolas, não somos bons de fórmulas e nem somos boas pessoas, no final. Ele quieto, eu nego. Ele fala, eu nego. Ele nega, eu assovio e peteleco.
No canto, sóbrio, vai se evadindo em experienciações. Sai do canto. Sobre o divã, sem experienciações, nega e cala. Ele é mudo nessa vibração, ele grita se é gorgeous. Eu, filthy. Comportamento alternado, alterado, alternando. "Vou me foder nessa. Certeza.". Gosta das tolices, gosta do humor. Sereno, monossilabismo. Excêntrico, vouyeurismo. Morangos mofados, nós somos. Eu e ele. Ele que podia ser ela, ou eu que podia ser no feminino. Condescendência e pouco papo. Digressão e música.

Passou o tempo da amora, do cabernet e do chandon. Passou, também, o tempo do amanhã, de junho e do tal do coração.

Eu, que era ele e parte de mim, um complemento agudo e sinuoso de profundo buraco, sequei. Ele, que sou eu num inverso prodigioso e estupidamente irreversível, tem secado. Eu quero vomitar. Neles todos.

"I'm so glad to have you and it's getting worse".

... das vírgulas ...

Pausa dramática porque perdi-me dentro de mim, novamente, sendo labirinto. Pausa dramática porque encontrei algo que parecia labirinto. Pausa que já tinha um grande labirinto. Pausa porque eu respiro. Pausa.

... dum resto de pudor ...

Dois caminhos. Veraneio e soslaio, foi de bota. Repleto de vontades, extasiado, foi-se em vão. Foi suar, foi sorrir, foi dançar. Ingeriu mais que lhe cabia, ingeriu mais que lhe defenestraria, ingeriu. Cicuta virulenta, vanguarda, contemporânea. Ingeriu mais que a modéstia proseava. Secretou. Excretou. Tornou-se em pó num moinho desregrado de convivas, bacantes e menestréis. Pícaros sorridentes e ele, ingerido, suado, risonho, não mais dançante. Quieto, divã. Deitado, divã. Lepra, álcool. Ingerção. Viu-se cercado por mandriões, estofados e alimentos mal digeridos. A vestuária, não mais monocolorida, dividia sua irradiação luminosa com o vinho barato, bebida barata, vômito barato. Pedaços dançantes da comida de outra hora que lhe ornavam o sorriso, o semblante, a pretensão.
Em riste, quieto, cansado, exasperado, ado, ado, ado ... passado.
Cabeça erguida, experiência antropológica, "cresce-se como indivíduo". Aprendeu, retificou. Não importa, agora. Importou, falhou. Humilhação ? Náá. Tá fazendo a linha Goldschmidt e ele, palco da hora da verdade.

"Nhac. Tô louca ..."

... de mim mesmo, mesmo ...

De tempos em tempos, eu ouço vociferados. É batida assimétrica de contornos doces e opacos na minha cabeça e motivação. De tempos em tempos, eu sinto sal debaixo do músculo. É azedume virginal que me corrói a inocência de momentos imperdíveis. De tempos em tempos, eu vejo pecados. É presságio alheio, inegável, narrável e doce de mordiscar. De tempos em tempos, disosmias de lado, eu volto a tragar. Trago, lúgubre, teu cenho franzido e beijo a tua boca suada. Segunda pessoa ? Sem ritmo. Assimétrico, corroído, presságio, fumo. Não importa. Não sei soletrar.

De tempos em tempos, estou aqui. Caminhando num ritmo novo, ouvindo sons das bacantes que eu desconheço, cantando em desamparo e sem tino pra orquestra e saboreando dos flertes que não comovem. Pícaro. Polissemia de caminhos ramificados. Urgh... cansado. Vou cagar e dormir.
"fly me to the moon
and let me play among the stars..."

"[Eu] estou alegoria pomposa de um grande vazio."

... de um tempo sem novos ...

Latejou ao longo de todas as horas que discorreram, cansadas, como ele, que já não despertava mais. Monotonia que gotejava das calçadas, nuas, cruas, no seu rosto suado. Era ele e não mais o outro, que perdeu-se, como disse o tal do Vicente - ou era Vicentino ? Não importa -, que já tava perdido. A bola de hélio já não queimava a todos em seu majestoso cume, intocável, irregelável, inegável e a musa dos bardos e basillus cheirava lá no teto. Ponto de vista bonito, estudantes rumando à monotonia, jaula dos conformes e istas, impregnou-se de coragem. Retirou do bolso o Samsung preto e com seu dedo desgastado de unhas roídas, quebradiças e amareladas pelo cigarro do dia-a-dia, digitou um número nada aleatório; digitou um número que há muito desejava digitar, tocar, suar, banhar. Uma mixórdia de ganidos de transeuntes desgarrados atendera junto dele, que, ao ouvir o ganido de latejo que lhe dizia 'Alô', gaguejou. Podia ver seu sorriso e espanto nos veios da áura eletromagnética, podia sentir sua respiração arfando e, calmamente, acompanhando o ritmo da do interlocutor, poderia ouvir violoncelos e o estalar das velas na sala escura, que seria seguido pela masturbação brutal, sodomita. Mordiscava os lábios enquanto ouvia, era ouvido por lábios mordiscados. Impressão empata. Pragmatismo pretensioso. Excitação casta.

No fim, foi como os outros. Latejou, cansou, arrependeu e dormiu.

" Sem rimas. Tantas rimas, rompidas.
Sem sinas. Tantas sinas cumpridas."
[externo.]

... da redundância oral ...

Controlador que era, agarrou-lhe o pulso com língua e trancafiou o músculo, antes nada pulsante, em sua rede sarcasmo e carcaças. Não havia como improvisar, invadir ou salientar, estava urdido. Tocou-lhe o tórax e mencionou, sussurrando, "solitude". Acidente de carro, "tu dirige?" e não querer falar ao grande amor de coisas aprendidas em discos são pontos-chave. Que absurdo que nem houvesse gama. Absurdo que nem houvesse 'gama'. Que nem houve 'gama'. Houve 'gama'. Ouve, 'gama'.
Sonhos, ora metódicos, ora espasmódicos lhe martelavam o crânio pelo pensar imposto, coitado. Atado, suado, mijado, não teve lepra que pudesse servir. Esperou por sons; de esperar, que cansou de muito. Que absurdo que nem houvesse 'gama'. Paralelismos, sofismas, laconismos, sarcasmo e conjugalidades. Afresco de um museu que nunca abriu, museu filhote.
Haustórios fixaram-se a ambos, pretensão. Pudico que era, estardalhaço, resiliente que era, emaranhado, fitou-lhe o mar e viu tempestade. "Caracas!, que vulgar". Era, mesmo, de atordoar. É devaneio, fluxo de memória inexistente que lhe caçoa a matriz, é ludibriante o vinho de mortiz, operandi. Quiçá houvesse paranóia libidinosa em outrora regatos meus ou principados eclesiásticos pra resolução póstuma. Monopólio da asnice.
Fugaz, companheiro, fugaz como beijo materno ou cicuta no chá. Café, urina e vil metal. Gana.

"Bertolucci, que afago pesado.
Bertolucci, sensato, abastado.
Mares de demência corriqueira.
Pudico, valente camareira."
[boboagem minha]

... brinde funesto ...

Quiasmos conjugais e erupções de pequenos vulcões. Tudo bem cinza, calmo e metódico. Polido e cortês como só eu sei urdir. Pretensão em devaneios, placebo de eufemia ou hipérbole truncada. Cacete, cadê a educação ?
Bem estar. O cumprimento é essencial pra se iniciar alguma coisa, partindo dum novo ou mesmo do reiniciar de um antigo, claro. Claro pra mim, claro, lógico. O cumprimento procede o desbloquear. I won't do that twice. Que dialética pertinentíssima que se espera dum copo de percentagens e conhaque/vinho/maquiavelismo. Não é lei entender, claro, lógico [pra mim].
Férias. Não é entendido como a ociosidade pode nos tornar tão produtivos e reacionários à fervilhares internos. Conversei com um robô, hoje. Programa, na verdade. Programa que montava respostas frasais de um diálogo a partir de palavras-chave de minhas sentenças. Foi lindo. Ela era inteligentíssima e me entreteve por 40 minutos. Nada de prosa ou pensamentos prosaicos hoje. Nada de passarinhos cantando, sonhos estilhaçados e metas interrompidas, menstruadas. Hoje é tudo muito novo, inclusive o meu pullover decotado é novo, também.
Vermelho. Vitae infértil é a cor, acho ou parece. Minhas mãos não são as mesmas de antes. Estão gastas, com as pontas roídas e tem uma moça no apartamento ao lado que parece se vangloriar de ter um liquidificador apocalíptico. Quando prepara algo para beber [presunção achar que é necessariamente pra beber], o som que projeta se assemelha à premissa do desastre, vadia. Morra engasgada com algo mal batido. E olha que eu nem moro aqui. Apartamento do Pedro.
Falaram, ele e o Renato, sobre tudo o que uma boa dialética descompromissada permite. Desde Demi Moore até Convencimentos Judaicos. Natural que eu tenha participado com a minha petulância extremamente parcial. Lindo isso de ser abstrato, baby.
Hoje foi um dia seco e sem catarro. Triste. Quase um Quaresma, eu. Se eu descer, você suba aqui no meu pescoço e faça dele o seu almoço; roa o osso e deixe a carne. Pensando em Curitiba, nesse meu fim, fico triste por conjeturas e termos intelectualóides não permitirem que eu vá. Às vezes, prefiria que não houvesse orgulho, sensatez ou essa minha linha de pensamento que só permite a primeira pessoa nesse caso de desabafo. Se fosse menos polido e avesso, penso que conseguiria tão mais do curto período de existência que me permito aqui.
Ninguém quer saber, vai ... enough, blueberry.

"É pesar
Visceral ao ponto polido, tenta
Cortês ao contemporâneo, pensa
Vissicitude moral, ética, retesa
E eu, aqui, uma mercê
É benigno "

[bobagem minha, de novo]

... duma nova sínquese ...

O Labirinto do Fauno. Assistido. Foi como idéia que existisse na cabeça e não tivesse a menor intenção de acontecer, mas aconteceu. Foi como começo de soluços, sorrateiro, mandrião.
Não importando, não entra em digreção. Não querendo incomodar, no canto da sala, observa quiasmos conjugais e um áspero perfume de catacrese. Debruçou, o pequerrucho, sobre si mesmo e sobre o cinzeiro, gotejou suor. Seu parasita adrenal percorre toda a espinha e o lembra que está sozinho, moribundo e picaresco. Pataca ? Certamente que não. Pende muito mais praquela dos globos de ressaca ou a tal dum Dirceu. Não está bem, parece.
Abraça a si mesmo numa tentativa vulgar - vulgar, sim, pelo contexto que não é escrito - de se ater às lembranças insólidas de algo que não tomou forma. Gotejou suor. Cinzas e cinzeiro, liga o ventilador. "Ai de mim!, que inferno que me meti". Devia estar cansado, afinal era tarde da manhã seguinte dum dia que nem havia começado. Me conta. Me conta.
Abriu a boca, lambeu, interrompendo o próximo gotejar, do suor. Sentiu aquele gosto que só nectar do Olimpo, catarro e fanta laranja podiam prover. Não conhecendo do primeiro, reluzia seu pedantismo fracassado, assindetizado e aliterado.
Está triste, hoje, gato ? Não devia escovar os dentes, estouvar aos modernistas e cessar a digreção que não pensava em iniciar ? Quieto. Não imperou, manteve-se. Sorriu pra mim, pelo espelho. Franzido o cenho, sorria com cara de "estou bavo". Ah!, que lindo que ficava. Mamãe dizia, ao menos. Aquietou-se, foi prum canto. Sujeitos.
Mostrei-lhe a mão extendida. "Pega, sai do transe". Quieto, quase sempre quieto, neutro, sério, cansado, aceitou. Disse, ao pé do meu ouvido que não tinha mais forças pra erguer bandeiras de fariseus e deuses falsos. Disse, pausada e arfadamente, que secara. Explorado, repousou no canto onde eu ficara, seco, antes. "Minha vez, não é ?", perguntei.
Enfim, secou. Parado, colorido, olhava para o borão cinza e nu que estava ali. Era eu, era ele, você e qualquer um que cogite. Sorriu, entendido, exausto. Gotejou uma lágrima de doçura. Desprezível.

Quem sabe o peito aberto, a ferida aberta e a palavra certa façam com que o doutor não reclame.

"Sorria. Sorria.
Sempre, amado, com cortesia.
Espasmos módicos, melancolia.
Sorria. Sorria.
Cortês desarmado, sempre.
Modus operandi, descendi."
[Bobagem Minha.]

... pícaro denotado ...

Sim sim sim.

Não tem mais ganidos ásperos cortando as minhas tripas com falta de tudo ou tudo's em falta. É como uma carta de alforria, mas sem a tal da escravidão em antecedência. Como um brinde de cianureto. Uma véspera de escarro.
Ser doce com os outros é bom, ser amargo soa e ressoa. Não que [eu] seja. Não que se seja. É só uma questão do passo que se dá. Do passo omitido, enfiado, compenetrado, escarrado, escrachado. Dói, sabe ? Como um tumor que lateja no crânio dos que tem a óbito. Não a dor dos clowns ou dos de origem picaresca. Porque viver sem rumo, em carência gutural [que é pra mim], não é pra mim.
No final das contas, conclui-se que eu sou um parasita. Não é depreciativo. Simbiose e parasitismo, pra mim, são a mesma merda. Não pretendo me especializar; c'est la vie.~
Ai ai ai. Dose de Donnie Darko e urina bocéfala[êtala] em banheiro público com imoralidade. Diwino.

Pirulito, tio ? Vai ?

... sem ódio. só desprezo, sabe ? dos que dão água na boca; dos que tem mentiras sinceras; dos que são coroados como reis e rainha; dos que cultivam jardins.

Origem picaresca. Perdi-me dentro de mim porque eu era labirinto.

... da denotação polissêmica ...

Decisões, decisões.

Robespierre que era espertinho: invariavelmente, convidava à guilhotina. Neurastênico. Neurastenia me mata, sabe ? Não afogado - que é o que eu desejo imensamente -, mas de um jeito irritante, frustrante. Compreensão não é necessária, compreensão é metafísica. Não tem de ser forçada, tem de fluir, fruir. Como um saco bêbado na escada, pronto pra 'se jogar', se empurrado - se desejado. Robespierre que era espertinho: categoricamente, convidava à guilhotinha. Neurastênico. Neurastenia me frustra, sabe ? Não afogado - que é o que eu já quis -, mas de um jeito medíocre ou, acha-se, intenso demais. Compreensão não é necessária, compreensão é meramente cordial. Não soa; ressoa. Como a queda dum saco com a leveza dum clown de Shakespeare, empurrado, pela escada. Robespierre que era espertinho: acabou na guilhotina. Neurastênico. Neurastenia me deixa intenso demais, sabe ? Compreende-se metafisicamente, cordialmente. Não soa irritante e nem ressoa frustrante, apenasmente mata. Como o afogamento, que tem um quê de monalítico ou o caralho a quatro.
Neurastenia sempre me deixa um corte que lembra uma boceta purulenta ou, quem sabe, uma fenda com lodo borbulhante - não o da ignorância, que esse já sou eu. Avatar, só, ego bobo.
Concordando com os pássaros, já passou da minha hora, que não pretende ser de verão. Pretender. Pretende, só. Elas me acompanham bem, as sonatinhas deles. Bem trovadorescas, acho. Sempre achei. Não me cansam, as trovas. Me cansa ter de matar todas as baratas do meu caminho; fome. Sempre olham pra mim como a outra olhou pra G. H.; fome. Nhac. Ulalá. Quiçá, um dia, hein ? Sentí-la, salgada, com meu dedo, sentí-la, salgada, com minha boca. Quando pequerrucho, bebi barata no Nescau. Não apreciei o momento.

Sim, os pássaros. Cantam. Deu a minha hora. Que, reitero, não é a de verão. Não não e não! A minha hora e a dos meus dois amigos aqui: Steven the Vegan e o Wilson - que sumiu, insular, o maldito.
Triste porque os tios das casas de rações pararam de se reunir pra conversar sobre o canto dos passarinhos (e comprar, engaiolados, outros. ah!, que se resolvam, ambos; não tira a beleza, ainda assim, pra mim).
"I'm waiting for you."
"To do what?"
"Leave me."

Sem mais dúvidas. Varanda de algum lugar, então. Mesmo que o passado seja mais presente que um tumor no braço esquerdo - que eu uso mais que o direito. Mesmo que o passado seja mais torrencial que água corrente ou suor corrente ou pus e coisa... e tal. Varanda.

Dúvidas. Decisões. Guilhotina. Afogamento. Docinho.

... da conotação primária ...

É como se tudo fibrilasse. Suado, o dia foi-me escorrendo e melando a roupa. De um jeito insuportável, foi descorrendo e mutilando meus sentidos. Por conotação, toma-se duas doses do mesmo pedacinho do oriente - ah!, desse oriente eu não esqueço nunca. oriente que me pertence e a quem pertenço. Goteja, da boina, no cangote manchado, pintado. Eu - em vulgo, mesmo - queria poder correr pela chuva, suando [eu, mesmo. não o dia.], com uma sequência de números na palma da mão; sequência que eu quisesse lutar pra poder manter intacta, como o bastardo que eu nunca tive. Suado. Senti o gosto das gotas de suor na minha boca, não eram minhas. Era uma gota aguda, que cortou meu escrutínio como um tapa. Que caiu como uma sala com Albinoni e uísque pra eu poder fazer as minhas orgias internas. Que não passam de piadas secas e que, com o tempo, se não trocadas, perdem a graça, viram lugar-comum, ficam cinzas, rugosas e ecoantes. Não gosto de ecos. Nunca gostei. Saudosismo é a lei, sim, pra mim, mas não um que ecoe. O eco é uma versão distorcida pela resistência de alguma constante. Suei na trincheira. Queria guerra e corpos levantando. Romero é bom amigo. Quero um pedacinho de vidro fincado no meu pé pra que ele sangre em profusão. Vase. Pra que eu possa me sentir menos próximo de mim mesmo. Há tempos que não aguento me ver. Sinto-me no mesmo quarteirão de onde sempre estive. Jogo de tabuleiro. Seria divertido ? Com a dose, tudo é. Já subiu à cabeça, já não sai mais, parasita. Sempre gostei de parasitismo; tem um quê de dignididade afetada nessa relação. Se não o tivesse, a sociedade já estava em post mortem. Agonizando, só, agora.
Não importa. Não importo. Não me importa. Importo. Ex. Medular.
E o dia acabou. Agora, concordando com os pássaros, é outro dia. Outra leva de horas. Mais uma série de devaneios medíocres são produzidos dentro do meu crânio. O crânio se contrai com uma força. Bebida, só pode ser. Eu bebo pra esquecer quem sou eu; pra eu não ter vergonha de olhar nos olhos dos outros e saber que, quando vêem dentro dos meus, tem pintado algo que, de longe, não é monalítico, que não hipnotiza. Bebo ao fracasso. Brindo ao fracasso. Brindo sozinho ou com minha gente - 'conhecida' ou não. A minha gente que tá tão fodida quanto eu. A minha gente rancorosa, pesarosa e, ao mesmo, tempo, a-minha-gente-que-,-quando-o-amor-chamou-,-foi-e-vai-sempre-como-cachorrinhos-mas-coroados-como-reis-e-rainhas. A minha gente que não me entende e a quem não entendo. Essa gente que sua comigo. Que troca catapora, catarro, cigarro, cuspe e ódio. A minha gente que, como eu, logo morre. Ou seca, fodida.
Vai... vem balançar comigo. Vamos suar a camisa e trocar orvalho por suor, pus e humor da corte espanhola. Suado e vendo alguém com castanholas. Like some poetry reading. Vidro no pé. Like it when the red water goes out. Erm. Erm.